Guia para estudar francês sozinho

ANTES DE COMEÇAR

Posso aprender francês em um ano? Depende do seu objetivo. Há diferentes níveis que separam aquele que quer ter um conhecimento instrumental da língua para não se perder em uma viagem daquele que tem pretensões literárias, como, por exemplo, ler La Disparition, famoso livro em que Georges Perec não usa a letra e, ou estudar os Exercises de Style, de Raymond Queneau. A depender das suas intenções, você pode demorar muito tempo até chegar ao nível desejado. O francês não é uma língua difícil, e você conseguirá ler notícias simples em poucas semanas, mas mesmo nativos se perguntam se Proust não seria uma impostura literária, porque têm dificuldades para entendê-lo.

Como eu sei qual é o meu nível de francês? Você pode fazer uma autoavaliação a partir do Quadro Comum Europeu de Referência para Línguas, ou a partir de um Test de Connaissance du Français. Na página do Centre International d’Études Pédagogiques você acha informações sobre o Quadro Comum referido, sobre DELF/DALF e outros testes de proficiência, bem como exemplos de exercícios.

POR ONDE COMEÇO?

Sugiro que seja pela pronúncia. O site mais completo para isso é o Phonétique. Os vídeos desta simpática senhora são incríveis, e 1 minuto é o bastante para que este pessoal elegante lhe explique como se fala.

Poucos são os sons do francês que não existem em português. Não há desculpa para não aprender logo a dizê-lo com alguma correção. Se você sabe falar os nomes de Jean-Jacques Rousseau, Voltaire, Montaigne, Arthur Rimbaud e Jean Renoir, já é um ótimo começo, porque eles o ajudam a compreender intuitivamente a pronúncia.

É importante aprender a ler o Alfabeto Fonético Internacional, porque ele permite que você compreenda a pronúncia de uma palavra a partir dos símbolos do dicionário, e também porque ele é o meio mais claro e objetivo para se compreender a pronúncia de uma língua (aliás, ele funciona para todas as línguas), e resolve as confusões que podem ser causadas por fonemas diferentes que são escritos com grafemas semelhantes. Por exemplo, o grafema “en” não é sempre lido como uma vogal nasal; se você ler “amen” como “amã”, você estará falando “amante”. As pessoas aprendem que “um”, por exemplo, é uma vogal nasal (como em “parfum”), mas este grafema também pode ser lido “óm” (como em “álbum”).

Conhecer a pronúncia do francês lhe será útil ainda que você só queira ler o idioma (pois sua leitura será mais rápida), mas não se preocupe se a sua pronúncia não for muito bonita ou se ela se afastar do padrão, já que o francês, assim como o português, tem diversas variações regionais de sotaque. Veja este vídeo.

DEPOIS DA PRONÚNCIA, A ESTRUTURA DA LÍNGUA

Vale a pena investir em métodos como o Café Crème, Écho, Táxi, Assimil, Tout Va Bien, entre outros, para aprender gramática? Eles custam caro e são utilizados por escolas de idiomas que trabalham com uma didática de progressão de conhecimentos do aluno. Para alguém que estuda sozinho pode ser meio desestimulante estudar passo a passo com um livro sem o acompanhamento de um professor, mas há por aí outras opções, como o Duolingo ou o Français Facile (que tem testes de nível, quiz e coisas divertidas de criança).

A apostila Avangardix, de Fabio Pierini, é outra ótima opção gratuita, assim como esta página de uma escola portuguesa, e os sites Bonjour de France e Aprendendo Francês. As postagens sobre língua francesa que o professor Sandro Decottignies publicou em seu blog também são excelentes – pode começar por este post sobre tempos verbais em francês e português, por exemplo.

Se preferir, pode comprar os volumes da Grammaire Progressive du Français, ou da Grammaire Expliquée du Français, ou imprimir esta Gramática da Língua Francesa. Também no site de conjugação Le Conjugueurexplicações gramaticais.

Não é o bastante? Se você sabe inglês, olhe estes sites: French About (Grammar) e BBC French (Grammar). E este da Universidade do Texas: Français Interactif. E mais este: French Ouverture.

Se tiver curiosidade, pode conferir as ementas que indicam como um curso universitário de francês é dado no MIT, na UEL e na UFSC.

DICIONÁRIOS

O único dicionário físico que comprei foi um Larousse Pratique, mas são muitos os dicionários online disponíveis gratuitamente:

Fr-fr: ReversoL’internauteLarousseDicionário da Academia FrancesaLittré (com exemplos literários), etc.

Fr-pt: Linguee (o dicionário inglês-francês é muito mais completo), Infopédia (dicionário de Portugal, que também pode ser comprado na Amazon).

CANÇÕES

Lá vão algumas recomendações, do clássico ao pop, do rock ao jazz:

Tété – À la faveur de l’automne ;

Éléphant – Collective mon amour (versão acústica) ;

Kyo – Dernière danse ;

Saez – Jeune et con ;

Noir Désir – Le vent nous portera ;

Stromae – Papaoutai ;

Indochine – J’ai demandé à la lune ;

M Pokora – Plus Haut ;

Mathieu Chedid – Je dis M ;

Été 67 – Dans ma prison ;

Bensé – Et si ;

Coeur de Pirate – Comme des enfants ;

Zaz – Je veux ;

Soap&Skin – Voyage voyage ;

Wendy Nazaré & Pep’s – Lisboa ;

Carla Bruni – Quelqu’un m’a dit ;

Keren Ann – Au coin du monde ;

Feist – La même histoire/We’re all in the dance ;

Joyce Jonathan – Pas besoin de toi ;

Camille – Que je t’aime ;

Madeleine Peyroux – La vie en rose ;

Léo Ferré – Paris spleen ;

Charles Aznavour – Hier encore ;

Charles Trenet – Revoir Paris ;

Edith Piaf & Théo Sarapo – À quoi ça sert l’amour ;

Lucienne Delyle – Mon amant de Saint Jean ;

Françoise Hardy – Fais moi une place ;

Julien Clerc – Souffrir par toi n’est pas souffrir ;

Francis Cabrel – Je t’aimais, je t’aime, je t’aimerais ;

Rameau – Les indes galantes, les sauvages ;

Reynaldo Hahn – À Chloris ;

Claude Lejeune – La guerre ;

PODCASTS

Na France Culture você encontra dezenas de programas com centenas de episódios, de Poesia a História, de episódios e séries especiais com leituras de cartas de Flaubert a programas sobre neurociência. De alguma coisa você vai gostar.

A France Musique também tem podcasts.

Ainda em francês: Podcast littéraire – leituras de trechos de livros ; Français Facile – leituras com transcrição ; France Bienvenue ; Gabfle – entrevistas ; Français authentique e aqui.

Para quem sabe inglês: Coffee Break French ; The French Culture Show ; One Thing in a French Day ; Desconheço podcasts em português sobre francês.

CHATS E REDES SOCIAIS

Conheço basicamente duas opções de chats: SharedTalk e Interpals. Não tenho muito o que falar. Detesto chats que não são com amigos, porque você entra em alguma sala e fica lá por uma hora olhando todo mundo falar das mesmas coisas, sendo que aprenderia muito mais se resolvesse falar sozinho consigo mesmo no quarto.

Lang-8 é uma rede onde você escreve um post de blog e um nativo corrige você. A ideia é excelente, mas pouca gente geralmente está disposta a ajudar.

Quora não é especificamente sobre línguas, mas sobre ~conhecimento~ em geral. Contudo, tem vários tópicos sobre francês e cultura francesa aí.

No Reddit também tem tópico sobre tudo, inclusive francês.

Tem também este Fórum.

VLOGS E TV

Vlogs são um pouco mais complicados de entender. A linguagem é informal, há muitas gírias, e vloggers costumam falar muito rápido. Acho que os mais famosos e divertidos são Norman fait de vidéos e Cyprien.

Play TV oferece várias opções de canais gratuitos via streaming (é preciso desativar o adblock para o site funcionar), como o Public Senat, um canal de informações políticas.

7 jours sur la planète é um programa da TV5 que está disponível com legendas no You Tube.

SÉRIES E FILMES

A série Extra é legendada e tem vários episódios – parece um FRIENDS do Français Langue Étrangère.

Para quem tem curiosidade de assistir a séries americanas dubladas em francês, o site francês mais completo de compartilhamento via torrent é o T411.

O T411 também é útil para encontrar algumas emissões da France Culture e outros sites que não estão mais disponíveis. Há coisas que só achei por lá, como esta adaptação de Kafka sur le Rivage, de Haruki Murakami, ou esta leitura de Fragments d’un Discours Amoureux, de Roland Barthes, feita por Fabrice Luchini (há uns excertos no you tube, como o verbete Absence).

No T411 tem ainda o novo livro de Milan Kundera, La Fête de l’Insignifiance, e de Michel Houellebecq, Soumission. Um detalhe: para usar o site é preciso que você mantenha um nível decente de colaboração, isto é, você não pode só baixar coisas, mas também compartilhar o que baixou (leia no site sobre qu’est-ce le ratio). Se tiver problemas com downloads, verifique se a sua edição do utorrent é anterior à 3.4.2 build 38913.

O anime Death Note está todo disponível no You Tube! Se você já o viu, vai gostar da dublagem francesa; se ainda não o viu: é o melhor anime de todos os tempos.

Avez-vous déjà vu ?

Não sei recomendar filmes, porque assisto de um a três a cada seis meses. Mas posso dar uma dica: use o BS Player. Ele busca automaticamente legendas dos filmes que você vai assistir, e lhe dá a opção de procurá-las na língua do próprio filme. Além disso, é fácil de sincronizá-las, se não estiverem corretas.

Alguns filmes: Dans la Maison, 8 femmes, 5×2, e Jeune & Jolie, de François Ozon; La vie d’Adèle, de Kechiche; Vivre sa Vie, de Godard; Jules et Jim, e L’homme qui aimait les femmes, de Truffaut; Danton, de Andrzej Wajda. É, acho que só. Ah, sim, gostei de Amélie Poulain, também.

O problema é que 80% do cinema francês parece não ser recomendado para menores. Fique atento às classificações dos filmes para não ter surpresas.

AUDIOBOOKS

No Littérature Audio você encontra mais de 4 mil opções. No LibriVox há pouco mais de 400.

CONFERÊNCIAS ACADÊMICAS E REVISTAS CULTURAIS

Você pode ouvir cursos e conferências apresentados na École Normale Supérieure, ou se perder na Webtv de l’Enseignement Supérieur e na France Culture Plus. A Open Edition indexa artigos e livros acadêmicos gratuitos, assim como o portal Persée e a página da Biblioteca Nacional da França, e ainda tem vários cursos no Coursera.

Também há uma Slate e uma Vice francesas, a revista Sciences Humaines, a Evene… Enfim, elas estão organizadas neste portal de revistas literárias.

SITES BILÍNGUES

Conheci um rapaz que vivia lendo a Wikipedia para aprender idiomas. Mas acho que todo mundo faz isso. Outra opção é a wikiHow. A base de artigos em inglês parece infinita, mas em francês também tem vários, desde “Como lavar a louça“, “Como salvar seu casamento?” até “Como amar os mal-amados?” ou mesmo “Como… esquecer“. Além de se divertir, você aprende uma porção de novos verbos e palavras específicas, e, em alguns casos, pode ver vídeos com legendas.

O MELHOR E MAIS ANTIGO MÉTODO ORA VIGENTE: IMERSÃO NO QUE VOCÊ GOSTA

Aprender uma nova língua toma bastante tempo que você poderia dedicar para fazer o que gosta ou que é útil (por exemplo, tem uma tia que disse por aí que não vai deixar seus filhos aprenderem francês porque não é bom para os negócios e a França está falida, e, sei lá, tem um monte de gente saindo de lá). Então, qual é o seu objetivo? Se você gosta de ler e ouvir francês vai facilitar muito, porque o estudo se torna algo natural.

NÃO TENHA MEDO DE ERRAR

Sempre que você tiver vergonha de dizer algo errado, lembre-se de que o presidente da França conseguiu errar a única palavra que escreveu em inglês em uma carta encaminhada ao presidente dos EUA.

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Desde que publiquei este post, algumas pessoas sugeriram estas outras dicas:

“Ah, dica para quem está treinando: ler peças de teatro. São fáceis de ler (porque curtas e separadas em pequenos atos) e a França tem grande tradição. Há muita coisa boa por aí, em muitos níveis de linguagem (tipo francês-fácil, ou com anotações de vocabulário para os níveis básico/intermediário/avançado), etc. Nos sebos, saem a preço de banana, pois ninguém tem interesse. E, explorando, descobre-se muita coisa legal. Descobri muito autor de teatro bom lendo peças em francês! (…) Tem filme que perdeu direito autoral no youtube. De vez em quando vejo!” (Luis Costa)

“Dá pra acessar o Netflix da França com a extensão Hola (e todos os outros). Ainda não tem muita coisa, mas dá pra ver os desenhos do tintim com legendas em francês e coisas assim.” (Mariana Barros)

“Duas pequenas dicas a mais: para iniciantes, por email, fb, twitter, todas as plataformas em francês; para avançados, ouvir os seminários online do Collège de France, cousa mais fina que há na internet (e esnobar depois na frente dos amigos).” (Rodrigo de Lemos)

“Sobre dicionários.
Para facilitar a busca em dicionários online recomendo usar o atalho que pode ser configurado ao clicar com o botão direito numa caixa de busca e depois ‘add keyword for this search…’. (te mostrei isso no forms uma vez). Googlem a frase em aspas para saber do que se trata, se ficou confuso.
Uso também um dicionário eletrônico [http://i.imgur.com/ZpB3cTB.png], que me parece ser bom (disclaimer: sou iniciante na língua), pois tem: áudio, transcrição fonética (hEUre =/= dEUx), expressões, e coisas bacanas do tipo, Ctrl + B (customizável) procura nele a palavra que está no meu Ctrl + C. O nome dele na minha .iso é ‘Collins Talking French-English Dictionary’.

Outra mídia para consumir é quadrinhos. Há bastante HQs — ‘BDs’ em fr. — que são originalmente em fr mesmo.
Olha que Seinfeld isso aqui: http://i.imgur.com/yyjs0Cs.jpg.
E que simpático: http://i.imgur.com/xK9U0Tc.jpg
Também versões fr de Calvin & Hobbes, Peanuts, etc. Ou até mesmo mangás.
Alguns infantis, como esse Lou! são legais [http://i.imgur.com/av5Nme2.jpg] ‘il mange un sandwich au poulet’ é quase frase de livro-texto.
Recomendo o programa CDisplay para ler no PC, e t411, avaxhome e google para download dos arquivos.

Rejogar um jogo do emulador pode ser divertido também; encontrar essas expressões:http://i.imgur.com/iDZzRQQ.png” (MV Hamm)

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Se você tiver outras sugestões, não hesite em indicá-las no espaço de comentários aqui abaixo.

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